Sob protestos e diante de uma disputa judicial, a Montblanc tira do mercado uma preciosa caneta com o nome de Mahatma Gandhi
O que era para ser mais uma tacada de marketing, de modo a associar o nome de uma marca a uma personalidade, acabou virando uma disputa judicial daquelas de dar uma dor de cabeça bem grande. Tudo começou porque a alemã Montblanc, famosa grife de artigos de luxo, produziu uma caneta com o nome do líder indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), o homem que, sem o uso de violência, desafiou o império britânico para libertar seu povo.
A ideia era fazer uma edição limitada e destinar parte dos lucros para projetos sociais na Índia. Só que a grife não contava com a ira do Centro para Educação do Consumidor de Kerala, uma província de 31 milhões de habitantes. Indignados com a associação do nome de Gandhi, homem de hábitos simples, com um produto de luxo, os líderes da ONG declararam guerra contra a marca e entraram na Justiça para proibir a sua venda. Enquanto a Justiça não decide sobre o assunto, a grife decidiu suspender as vendas da caneta no país (no Brasil, ela ainda pode ser encontrada).
Apesar de Tushar Gandhi, bisneto do ativista, e do governo da Índia terem aprovado a iniciativa da grife alemã, o caso revelou os perigos da associação entre marcas de luxo com personalidades. “A intenção da Montblanc não é ofender. Mas sempre há riscos em associar personalidades a um produto”, explica Silvio Passarelli, diretor do MBA em gestão do luxo na Faap.
O imbróglio pegou de surpresa os executivos da marca. “Nunca tinha acontecido algo assim, mas creio que será resolvido logo”, diz Adriana Tombolatto, diretora de marketing da Montblanc. O fato é que as canetas, que chegam a custar US$ 24 mil, se tornaram indesejadas em um país já dividido pelas profundas diferenças sociais geradas pelas castas. “Eles quiseram fazer uma homenagem e o tiro saiu pela culatra”, diz Passarelli.
Além da Montblanc, outras empresas de luxo já foram alvos de protestos de comunidades ao redor do mundo. Em Barcelona, por exemplo, a mais recente unidade da rede W Hotels, inaugurada em outubro de 2009, na orla da cidade, causou um impacto negativo. É que os moradores reclamaram que o hotel, com o design em forma de vela, igual ao Burj Al Arab, de Dubai, foge dos padrões arquitetônicos da cidade.
“As marcas, em especial as que atuam no segmento de alto padrão, estão sempre cercadas de grande expectativa e as cobranças do público são maiores”, aponta Cecília Russo, sócia da Troiano Consultoria de Marcas. Essas cobranças, mesmo que veladas, moveram as críticas ao papa Bento XVI, quando ele foi fotografado usando sapatos da grife italiana Prada.
Antes que o papa se tornasse garoto-propaganda da marca, o jornal do Vaticano negou a história e ainda acusou a imprensa de “dar um ar de futilidade à Igreja Católica”. Mas se, para uns, a polêmica é indesejada, para outros ela é crucial.
Uma das coleções que elevaram Alexander McQueen, estilista falecido recentemente, ao estrelato, em 1995, foi a Highland Rape, algo que pode ser traduzido como estupro da serra.
Apesar do nome de mau gosto, a intenção era protestar contra a devastação que a Inglaterra promoveu na Escócia. Ainda que tenha chocado o público, foi um sucesso. A rigor, a Montblanc, mesmo sem querer, fará proveito dessa “fama”. Afinal, a polêmica fará com que as canetas de Gandhi se tornem itens ainda mais disputados entre colecionadores.
Fonte: ISTOÉ Dinheiro – Edição Nº: 648
2 comentários:
Mais uma vez parabéns, seu blog como sempre é referencia incontestável.
Seu trabalho prima pela excelência.
Abraço
Seria uma "inveja" de marketing? A não aprovação por alguém da família seria compreensível e até questão de direito, mas além disso, não sei. Para mim se trata de uma homenagem em grande estilo, porque reune valores, que embora distintos, obviamente, engrandece pelo enaltecimento do homenageado. Fazer o que, se as mentes refletem sentimentos distorcidos, porque tudo está intimamente ligado à valores culturais enraizados plausíveis de posicionamentos e exegeses distintas. Perdem todos aqueles que vislumbravam positivamente pelo louvor da compreensão e ganham os opostos. E dentro do contexto, peremptoriamente, somente o desfecho judicial poderá levar ao veredito. É uma ação em mão dupla: uma que questiona e a outra porque está sendo questionada. Restará apenas torcermos por quem de direito o terá!!!
Mais uma vez parabéns, Luís querido pelos destaques sempre brilhantes de suas matérias!! Bjoss
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